domingo, 7 de dezembro de 2008

Ex-leprosos e atuais ingratos

Após ler Lucas 17:11 a 19, pense no que escrevo abaixo:

A fim de entendermos melhor a proporção deste acontecimento convém saber ao menos um pouco sobre a gravidade da lepra e as suas conseqüências.

Tratava-se de uma doença incurável, trazendo todas as adversidades de uma doença incurável naquela época. Não haviam centros médicos para tratamento, não haviam pesquisas de vacinas trazendo esperança de cura, não haviam medicamentos capazes de amenizar os males da doença (aumentar o tempo de vida, reduzir a dor, evitar o avanço). Ou seja, melhor qualque doença incurável atualmente que nos tempos bíblicos.

A leproso convivia com a presença de manchas e inchaços na pele avançando gradativamente, exalando mau cheiro, tornando o membro afetado insensível e provocando até a perda do mesmo, somente a descrição simplista da doença é pavorosa. Soma-se a isto, o fato de ser uma doença contagiosa que não permite ao enfermo padecer na companhia de entes queridos, precisa morrer sozinho!

Nestas condições o leproso provavelmente adoece por dentro, ao perceber-se num corredor da morte, afastado da possibilidade do encontro humano, sem poder exercer uma função na sociedade, sofrendo preconceito, declarado imundo, sem esperança.

Outros enfermos podiam jogar-se aos pés de Jesus, convidá-lo para casa, tocar nas suas vestes, estes leprosos gritavam a distância.

É conhecido o fato que judeus não se dão com samaritanos, porém nesta cena todos estão juntos; pois nas adversidades (luto, doença, e tragédias como a que sofreu Santa Catarina) não há judeu, samaritano, rico, pobre; os seres humanos são unidos pela dor.

Jesus manda que os 10 leprosos se apresentem aos sacerdotes, logicamente isto deveria ser posterior a constatação da cura da lepra, mas eles não questionam, apenas obedecem, pois a fé é inseparável da obediência e das obras. Enquanto caminham são todos curados!

Este milagre, ao contrário do que assistimos hoje, não foi a exceção para animar os da fila de espera, foi regra. Sem show, sem holofotes, sem propagação de pessoas ou lugar, sem ninguém fazer sacrifício, sem campanha, ninguém teve que tornar-se merecedor (foi curado também o samaritano que para os fariseus eram considerados impuros) foi a vontade de DEUS e pronto!

Jesus não lhes devolvia apenas saúde física, era devolução de dignidade, aceitação e vida social, esperança, prorrogação da vida, possibilidades perdidas, sonhos. As bênçãos advindas da cura da lepra são incontáveis, porém a soma de todas não foi capaz de produzir gratidão no coração de nove filhos de Abraão. Há certas coisas que o milagre não traz (arrependimento, conversão, atestado de pertencimento a DEUS, gratidão)! A gratidão que deveria ser regra tornou-se a exceção, somente um retorna para agradecer.

A beleza do milagre é saber que Jesus vai curar sabendo que 9 não retornarão para agradecer! DEUS conhecendo o futuro não ficará decepcionado! O amor de Jesus não tem as limitações do nosso!

Nem sempre, o exemplo vem de onde esperamos. O exemplo de gratidão não são os filhos de Abraão, é o samaritano! Tal qual quem vai a Belém adorar não são os escribas, são os magos pagãos do Oriente! Quem socorre o caído não é o levita, e nem o sacerdote, é o samaritano! No caminho também despertam a atenção de Jesus o soldado romano e a mulher cananéia que não pertencem ao povo escolhido, não são descendência de Abraão, mas Jesus não tem pretensão de ser somente DEUS meu e teu e primordialmente de Israel, é PAI NOSSO! É como disse João Batista das pedras DEUS pode suscitar filhos de Abraão, então não seja presunçoso!

O comportamento do samaritano após a cura é muito comum as pessoas quando querem alcançar da parte de DEUS algum favor, porém este homem curado humilha-se publicamente, diz muitas coisas, lança-se aos pés de Jesus, e não está pedindo nada, está agradecendo.

Segundo II TIM 3:2, uma das características dos homens nos últimos dias é o sentimento de ingratidão.

Ora, todos nós temos imensa facilidade em começar uma oração com palavras de gratidão, ou convenientemente antes de nossos pedidos dizemos “primeiramente agradeço a DEUS pelas bençãos recebidas”. Porém se a gratidão não estiver dentro de nós, não adianta nada palavras de gratidão. Além de ver o coração , DEUS ouve o coração!

Nem tão pouco pense que é somente na igreja, na hora do culto que DEUS espera manifestações externas de gratidão, a gratidão pode ser até demonstrada através de atos externos, porém ela é um sentimento permanente no coração. Ou seja, eu não tenho que mostrar gratidão, eu preciso aprender a viver grato.

As pessoas ficam gratas, e isto é simples e possível a todos, sempre que acontece algo bom alguém enche a boca e diz “Graças a DEUS”. Porém, a admoestação bíblica, não é para ficarmos agradecidos, mas para sermos agradecidos.

Gratidão verdadeira não depende de fatos externos, até mesmo por que conforme o exemplo acima nem milagres produzem gratidão. Gratidão tem que ser um estado no coração que concluiu que DEUS é bom, independendo do que acontecerá do lado de fora.

Você lê uma síntese do currículo de Paulo em II Co 11:24 a 27 e nas cartas que ele escreve o assunto continua sendo regozijo, contentamento e muitas, muitas ações de graças.

Jesus demonstrou sua indignação diante da ingratidão daqueles homes, fazendo perguntas que ficaram sem respostas. Aqueles homens são membros das multidões que querem pão, peixe, cura, exorcismo, soluções de problemas, mas não amam Jesus e não querem um relacionamento, mas um DEUS mercado.

Abaixo algumas práticas que alimentam o sentimento de ingratidão:

1) Como os israelitas que saíram do Egito, olhamos com desprezo para tudo que temos ”Só temos este maná”

2) Valorizamos somente o que não temos: peixes, pepinos, melões, alhos, cebolas, panelas de carne; aí liberdade e promessa de uma terra que mana leite e mel perdem o valor. O desafio é ser como Paulo, contentar-se com o que temos.

3) Condicionamos gratidão a fatos. Lembre que o contentamento dos israelitas era passageiro, sempre surgia uma nova exigência (carne) . Não se engane achando que vai ser grato quando seu desejo se realizar, você vai ficar grato, e isto vai passar também. Jesus era grato e o encontramos agradecendo sempre antes (multiplicação de pães e peixes, ressurreição de Lázaro). E veja que a vida de Jesus não foi uma maravilha!

4) Não pense que DEUS tem dívida contigo, na verdade o sentimento advindo da gratidão deve ser sempre o oposto. “Que darei eu ao SENHOR por todos os benefícios que me tem feito?
E não é possível que pagando um preço, o famoso sacrifício, que alguma igreja determina, DEUS venha adquirir uma dívida comigo.

Então, faça uma conferência no seu coração e veja você está grato ou você é grato!

Alessandro D. Corrêa

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